07 agosto 2007

Metamorfus.



Metamorfus
Eis-me então...

perante minha caixa de Pandora.
Que sei ser abrigo de muitas e tantas dores e desejos.
Tão...
etéreos,
natos,
eternos...
Em mim.
Falsamente, propositalmente, medrosamente,
melindrosamente, inconseqüentemente,
a caixa fez-se esquecida
mas,
enfim é aberta agora.
Trazendo suas dores, luxúrias e mistérios.
O descerrar de sua tampa foi ação por tantas vezes adiada
e tantas vezes temida.
Entendo agora:
Apenas desnecessária fuga de minha natureza, do que habita em mim.
E se fazem libertos, independentes, maduros...
Meus desejos de pertencer, ser Tua ermida.
Se concretizam, me tomam, me guiam e me levam a Ti.
A mente, embora bem mais leve,
ainda vê-se obrigada a servir de casa.
Ainda flutuam fantasmas de medo, mesmo que meio esquecidos.
Mas eles correm, se escondem, enfraquecem ...
Perante aquele do qual faço parte,
daquele que me elegeu, me escolheu,
daquele que possui o brilho nos olhos que me tomam,
engrandecem, envaidecem.
Dúvidas, opiniões, ideais, rótulos, inseguranças,
preconceitos, incertezas, medos, ...
Sinto seus significados sumirem de pronto. Não me importo mais com "tipos",
delicadezas, jogos, embustes.
Sou eu, apenas eu,
e fico, me calo, me deixo, me abandono
a Ti.
Os ventos e brumas libertos envolvem
O corpo, o ar, a alma, os sexo, a mente, os ossos, os olhos.
Somente agora revelam sua mais forte magia.
Nada diminuem, disfarçam, encobrem.
Nada anestesiam, enganam.
Nada mascaram, mentem, escondem.
A tempo tomam a verdade por cega e certeira guia.
Me sinto exposta, olhada, vergada,
intimidada, farejada, caçada, explorada.
Apenas Teus olhos e já sou desnudada.
A carne treme e entendo, é meu medo pelo meu desejo.
Temo mas desejo!
Temo meu desejo...
Desejo poder ser o que sou, quero nascer.
Sinto que o ar ioniza.
A espera é prazerosamente sofrida, degustada e vivida.
Apenas espero como calada, solitária, fria semente que,
antes do sol, nada sente.
Apenas espero como temerosa, excitada,
resfolegante presa caída que morre.
Vegetal imóvel que se desespera e sofre pela poda eminente.
Pena leve, preguiçosa, escarlate que em línguas de fogo se consome.
O toques,
tranqüilos porém fortes...
...Absolutos em toda sua delicadeza,
cegos em toda sua luxúria e desejo.
Tornam-se cálido desejo que traz vida.
E a semente enfim liberta-se do solo-morada,
pedregoso, gélido... Prisão.
Enxerga finalmente em cores e sons o lugar que desde sempre habitou.
No solo conhecido, profundo, púmbleo, gélido e seguro
porém, morto abrigo, nunca conheceu paixão.
O animal,
quase desfalecido,
fraco, mas vivo...
para, relaxa enfim, sente que sorri.
Sente e presente:
há um porque digno em tombar ali.
Tentou, lutou, correu, fugiu,
com honra, destreza.
Mas em paz agora aceita o inevitável destino:
ser ao final apenas o que nasceu para ser...
Presa.
Em outro canto da mente...
Sinto a dor e o frio de uma lâmina a cortar,
minha seiva a se esvaecer.
Mas tudo é tão rápido mesmo dorido e indesejável...
E apenas se vê caído, cortado, podado
tudo aquilo que fazia, definhar, enfraquecer, morrer.
E eis nova planta,
mais leve, mais viva, quase inquebrantável.
O fogo aquece mas consome,
doe, tortura e, enfim,
desfaz em cinzas mais uma parte, mais um pedaço.
Quase que nada mais da ave existe.
Nada...
Nada do que havia antes ficou intacto.
E como esperado, menos pela ave,
os temporais e transitórios dor e lágrimas
trazem inigualável renascer.
Muito mais bela, querida, desejada, encantadora,
a ave enfim vê a gaiola não mais prisão
...mas pacto.
Então em teus olhos me vejo rosa
que desabrocha a perfumar e adornar.
Quando a servi-lo, agrada-lo, sacia-lo:
A Paz de ser caça entre seus dentes.
Nos rabiscos, riscos, desenhos, obras primas que me deixa...
as marcas no meu corpo-Teu corpo e a força do Seu moldar.
No abandono de estar junto a Ti sou, enfim,
aquela que encontrou repouso, encosto, abraço...
Fênix cativa eternamente.
E renasço tantas, tamanhas, sedentas,
diversas, incompletas, luminosas, repletas...
Habitando o mesmo corpo, tempo e espaço.
E sabes que todas estão, invariavelmente,
sob o julgo de teus laços.
Rainha, inseto, mulher, luz, serva.
Protegida, podada, morta, feliz, dorida, renascida...
Mas não basta.
Cada vez, e sempre mais, me moldar a seus desejos, expectativas.
Sentir que sou motivo de orgulho, prazer.
Merecer seu tempo, seu sorriso, seu olhar, seu cuidado.
Mais que guardar, usar, levar...
Desejo ostentar como baluarte sua coleira
sentindo que estou impregnada por Teu gosto e, assim,
porta-lá com honra, força, calor, paixão.
Fazer-me, ao porta-lá, cada vez mais Tua.
Ser toda delicadeza, tranqüilidade, leveza,
submissão, desejo, e alegria.
Enfim,
renascer algum dia metamorfoseada bela, pura, única
e simplesmente sendo
de forma concreta e verdadeira...
Sua serva 
Obrigada por fazer-me Tua Senhor de mim.

Um comentário:

Maestro Alex - BDSM - SSC disse...

levou tempo ler...
tive que dar zoom nas letras... rs...
mas...
lindo como sempre...