18 agosto 2007

O Amor

Algumas coisas são tão belas que dispensam comentários.

E alguém disse:

Fala-nos do Amor:

- Quando o amor vos fizer sinal, segui-o;

ainda que os seus caminhos sejam duros e difíceis.

E quando as suas asas vos envolverem, entregai-vos;

ainda que a espada escondida na sua plumagem

vos possa ferir.

E quando vos falar, acreditai nele;

apesar de a sua voz

poder quebrar os vossos sonhos

como o vento norte ao sacudir os jardins.

Porque assim como o vosso amor

vos engrandece, também deve crucificar-vos

E assim como se eleva à vossa altura

e acaricia os ramos mais frágeisque tremem ao sol,

também penetrará até às raízes

sacudindo o seu apego à terra.

Como braçadas de trigo vos leva.

Malha-vos até ficardes nus.

Passa-vos pelo crivo

para vos livrar do joio.

Mói-vos até à brancura.

Amassa-vos até ficardes maleáveis.

Então entrega-vos ao seu fogo,

para poderdes ser

o pão sagrado no festim de Deus.

Tudo isto vos fará o amor,

para poderdes conhecer os segredos

do vosso coração,

e por este conhecimento vos tornardes

o coração da Vida.

Mas, se no vosso medo,

buscais apenas a paz do amor,

o prazer do amor,

então mais vale cobrir a nudez

e sair do campo do amor,

a caminho do mundo sem estações,

onde podereis rir,

mas nunca todos os vossos risos,

e chorar,

mas nunca todas as vossas lágrimas.

O amor só dá de si mesmo,

e só recebe de si mesmo.

O amor não possui

nem quer ser possuído.

Porque o amor basta ao amor.

E não penseis

que podeis guiar o curso do amor;

porque o amor, se vos escolher,

marcará ele o vosso curso.

O amor não tem outro desejo

senão consumar-se.

Mas se amarem e tiverem desejos,

deverão se estes:

Fundir-se e ser um regato corrente

a cantar a sua melodia à noite.

Conhecer a dor da excessiva ternura.

Ser ferido pela própria inteligência do amor,

e sangrar de bom grado e alegremente.

Acordar de manhã com o coração cheio

e agradecer outro dia de amor.

Descansar ao meio dia

e meditar no êxtase do amor.

Voltar a casa ao crepúsculo

e adormecer tendo no coração

uma prece pelo bem amado,

e na boca, um canto de louvor.

Khalil Gibran

12 agosto 2007

A Representação dos Meus "Eus"

A Representação dos Meus "Eus"
By Bela {LD}
Transformo-me nos teus quereres.
Esqueço de minhas formas
e moldo-me à mercê de teus instantes.
Ainda estou aqui.
Sei quem sou e o que quero,
mas permito-me mutar-me
para sermos nós em Ti.
Meu relógio conta as Tuas horas.
Faleço à cada partida Tua.
Renasço a cada sorriso Teu.
Vivo de adorar-te.
Mesmo perdendo-me.
Programo-me para não sonhar..
..podes não estar em meus sonhos.
Mantenho-me atenta, acordada.
Preparada para Teus caprichos que não vêem.
Cada sussurro Teu,
ecoa em mim como rugidos
que amedrontam-me,
devoram-me,
cegam-me para o mundo,
mas me aproximam de Ti.
Pertenço-Te.
Sou o nada se Tu quiseres,
assim como posso ser o tudo,
para Teus caprichos.
Sou Tua argila,
que molda-se para Teu prazer,
para que transformes no que te irrita,
no que odeias,
no que ignoras,
no que desprezas,
mas que amas...
do Teu jeito,
da Tua forma,
com Teus mistérios..
que não desvendam-se para mim,
mas permitem-me ser muitas formas...
Todas elas criação Tua.
Bela {LD}

07 agosto 2007

Metamorfus.



Metamorfus
Eis-me então...

perante minha caixa de Pandora.
Que sei ser abrigo de muitas e tantas dores e desejos.
Tão...
etéreos,
natos,
eternos...
Em mim.
Falsamente, propositalmente, medrosamente,
melindrosamente, inconseqüentemente,
a caixa fez-se esquecida
mas,
enfim é aberta agora.
Trazendo suas dores, luxúrias e mistérios.
O descerrar de sua tampa foi ação por tantas vezes adiada
e tantas vezes temida.
Entendo agora:
Apenas desnecessária fuga de minha natureza, do que habita em mim.
E se fazem libertos, independentes, maduros...
Meus desejos de pertencer, ser Tua ermida.
Se concretizam, me tomam, me guiam e me levam a Ti.
A mente, embora bem mais leve,
ainda vê-se obrigada a servir de casa.
Ainda flutuam fantasmas de medo, mesmo que meio esquecidos.
Mas eles correm, se escondem, enfraquecem ...
Perante aquele do qual faço parte,
daquele que me elegeu, me escolheu,
daquele que possui o brilho nos olhos que me tomam,
engrandecem, envaidecem.
Dúvidas, opiniões, ideais, rótulos, inseguranças,
preconceitos, incertezas, medos, ...
Sinto seus significados sumirem de pronto. Não me importo mais com "tipos",
delicadezas, jogos, embustes.
Sou eu, apenas eu,
e fico, me calo, me deixo, me abandono
a Ti.
Os ventos e brumas libertos envolvem
O corpo, o ar, a alma, os sexo, a mente, os ossos, os olhos.
Somente agora revelam sua mais forte magia.
Nada diminuem, disfarçam, encobrem.
Nada anestesiam, enganam.
Nada mascaram, mentem, escondem.
A tempo tomam a verdade por cega e certeira guia.
Me sinto exposta, olhada, vergada,
intimidada, farejada, caçada, explorada.
Apenas Teus olhos e já sou desnudada.
A carne treme e entendo, é meu medo pelo meu desejo.
Temo mas desejo!
Temo meu desejo...
Desejo poder ser o que sou, quero nascer.
Sinto que o ar ioniza.
A espera é prazerosamente sofrida, degustada e vivida.
Apenas espero como calada, solitária, fria semente que,
antes do sol, nada sente.
Apenas espero como temerosa, excitada,
resfolegante presa caída que morre.
Vegetal imóvel que se desespera e sofre pela poda eminente.
Pena leve, preguiçosa, escarlate que em línguas de fogo se consome.
O toques,
tranqüilos porém fortes...
...Absolutos em toda sua delicadeza,
cegos em toda sua luxúria e desejo.
Tornam-se cálido desejo que traz vida.
E a semente enfim liberta-se do solo-morada,
pedregoso, gélido... Prisão.
Enxerga finalmente em cores e sons o lugar que desde sempre habitou.
No solo conhecido, profundo, púmbleo, gélido e seguro
porém, morto abrigo, nunca conheceu paixão.
O animal,
quase desfalecido,
fraco, mas vivo...
para, relaxa enfim, sente que sorri.
Sente e presente:
há um porque digno em tombar ali.
Tentou, lutou, correu, fugiu,
com honra, destreza.
Mas em paz agora aceita o inevitável destino:
ser ao final apenas o que nasceu para ser...
Presa.
Em outro canto da mente...
Sinto a dor e o frio de uma lâmina a cortar,
minha seiva a se esvaecer.
Mas tudo é tão rápido mesmo dorido e indesejável...
E apenas se vê caído, cortado, podado
tudo aquilo que fazia, definhar, enfraquecer, morrer.
E eis nova planta,
mais leve, mais viva, quase inquebrantável.
O fogo aquece mas consome,
doe, tortura e, enfim,
desfaz em cinzas mais uma parte, mais um pedaço.
Quase que nada mais da ave existe.
Nada...
Nada do que havia antes ficou intacto.
E como esperado, menos pela ave,
os temporais e transitórios dor e lágrimas
trazem inigualável renascer.
Muito mais bela, querida, desejada, encantadora,
a ave enfim vê a gaiola não mais prisão
...mas pacto.
Então em teus olhos me vejo rosa
que desabrocha a perfumar e adornar.
Quando a servi-lo, agrada-lo, sacia-lo:
A Paz de ser caça entre seus dentes.
Nos rabiscos, riscos, desenhos, obras primas que me deixa...
as marcas no meu corpo-Teu corpo e a força do Seu moldar.
No abandono de estar junto a Ti sou, enfim,
aquela que encontrou repouso, encosto, abraço...
Fênix cativa eternamente.
E renasço tantas, tamanhas, sedentas,
diversas, incompletas, luminosas, repletas...
Habitando o mesmo corpo, tempo e espaço.
E sabes que todas estão, invariavelmente,
sob o julgo de teus laços.
Rainha, inseto, mulher, luz, serva.
Protegida, podada, morta, feliz, dorida, renascida...
Mas não basta.
Cada vez, e sempre mais, me moldar a seus desejos, expectativas.
Sentir que sou motivo de orgulho, prazer.
Merecer seu tempo, seu sorriso, seu olhar, seu cuidado.
Mais que guardar, usar, levar...
Desejo ostentar como baluarte sua coleira
sentindo que estou impregnada por Teu gosto e, assim,
porta-lá com honra, força, calor, paixão.
Fazer-me, ao porta-lá, cada vez mais Tua.
Ser toda delicadeza, tranqüilidade, leveza,
submissão, desejo, e alegria.
Enfim,
renascer algum dia metamorfoseada bela, pura, única
e simplesmente sendo
de forma concreta e verdadeira...
Sua serva 
Obrigada por fazer-me Tua Senhor de mim.