Será loucura se apaixonar por um fantasma?
Uma paixão que de tão etérea reconstrói?
Uma palavra que, mesmo sem toque, rasga?
Uma ausência que sem presença dói?
Permitir a pele em febre e os olhos baixos
E um corpo sem o menor domínio de si?
A um homem cujo cheiro não acho?
A um espectro que não vejo sorrir?
Apaixonar-se por algo que apenas existe
Na tênue linha dos sentidos mais arcaicos?
Criando uma espera que briga e resiste
Tanto a experiência, como a boa vontade dos laicos?
Um espírito que absurdamente consegue tocar-me?
Que me leva a loucura com apenas seus tons de voz?
Sinto minha pele total e completamente a arrepiar-se
Apenas por imaginar, ao amar, seus sons de algoz.
Alguém, ou algo, que apenas existe na imaginação?
Que não possui fragrância, nem tons ou toques de prazer?
E que mesmo assim exerce tamanha dominação?
E que simplesmente precisa desejar para logo ter?
Que é feito diafanamente de palavras, sons e imagens?
Que parecem aos olhos tão desnudas e inocentes
Mas guardam o dom de levar a tamanhas e longínquas viagens
E com elas criar raízes n’alma tão profundas e perenes?
Como e de que forma estes pequenos e diminutos sinais
Podem solidificar, sem nenhum pedido, uma vida na espera?
Que formas magistrais e totais podem afastar quaisquer pessoas reais?
Com apenas poucos sinais e na contramão uma obediência cega?
Tenho que abandonar de qualquer forma meu desejo
Desejar a ti pertencer e um sonho por demais longínquo
Nada do que eu faca, suspiros, lagrimas ou apelos
Farão-te mais próximo de todo meu desejo ou doce suplicio
Melhor te guardar apenas como sonho, minha cura.
Como meu desejo secreto e minha divina salvação
Mesmo sem vislumbrar chances de um alvará de soltura
Pensar em ti como minha derradeira e incurável paixão.
Aquele há quem me dobrei sem nunca ao menos divisar
Aquele que apaixonei sem nunca ser concreto
Aquele que, embora etéreo, a alma me faz desnudar.
Aquele que, embora ausente, me fez objeto.
Um comentário:
forte...
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