02 janeiro 2007

Seria possivel?...

Será loucura se apaixonar por um fantasma?
Uma paixão que de tão etérea reconstrói?
Uma palavra que, mesmo sem toque, rasga?
Uma ausência que sem presença dói?
Permitir a pele em febre e os olhos baixos
E um corpo sem o menor domínio de si?
A um homem cujo cheiro não acho?
A um espectro que não vejo sorrir?
Apaixonar-se por algo que apenas existe
Na tênue linha dos sentidos mais arcaicos?
Criando uma espera que briga e resiste
Tanto a experiência, como a boa vontade dos laicos?
Um espírito que absurdamente consegue tocar-me?
Que me leva a loucura com apenas seus tons de voz?
Sinto minha pele total e completamente a arrepiar-se
Apenas por imaginar, ao amar, seus sons de algoz.
Alguém, ou algo, que apenas existe na imaginação?
Que não possui fragrância, nem tons ou toques de prazer?
E que mesmo assim exerce tamanha dominação?
E que simplesmente precisa desejar para logo ter?
Que é feito diafanamente de palavras, sons e imagens?
Que parecem aos olhos tão desnudas e inocentes
Mas guardam o dom de levar a tamanhas e longínquas viagens
E com elas criar raízes n’alma tão profundas e perenes?
Como e de que forma estes pequenos e diminutos sinais
Podem solidificar, sem nenhum pedido, uma vida na espera?
Que formas magistrais e totais podem afastar quaisquer pessoas reais?
Com apenas poucos sinais e na contramão uma obediência cega?
Tenho que abandonar de qualquer forma meu desejo
Desejar a ti pertencer e um sonho por demais longínquo
Nada do que eu faca, suspiros, lagrimas ou apelos
Farão-te mais próximo de todo meu desejo ou doce suplicio
Melhor te guardar apenas como sonho, minha cura.
Como meu desejo secreto e minha divina salvação
Mesmo sem vislumbrar chances de um alvará de soltura
Pensar em ti como minha derradeira e incurável paixão.
Aquele há quem me dobrei sem nunca ao menos divisar
Aquele que apaixonei sem nunca ser concreto
Aquele que, embora etéreo, a alma me faz desnudar.
Aquele que, embora ausente, me fez objeto.
ruiv@